30 de novembro de 2023
AMAGGI amplia uso da ‘Muvuca’ para restauração em propriedades
Uma colorida mistura de sementes, de diferentes espécies e tamanhos, com capacidade de restaurar a vegetação nativa de áreas degradadas. Conhecida como “Muvuca”, a técnica de semeadura direta é usada pela AMAGGI para fazer a restauração ambiental em três fazendas da empresa em Mato Grosso: Tanguro, Sete Lagoas e Primavera.
A semeadura direta nos biomas Amazônia e Cerrado é realizada com sementes nativas coletadas em áreas rurais e urbanas. “Pela Muvuca é realizado o enriquecimento do banco de sementes do solo com uma mistura de espécies de adubação verde, pioneiras, secundárias e clímax”, explica Paulo Mariotti, engenheiro florestal e analista socioambiental da AMAGGI.
“A mistura é semeada no solo, preparado para estruturação e controle de espécies exóticas indesejadas. E cada espécie germina conforme seu estágio dentro do processo de regeneração natural da área”, complementa o analista socioambiental da AMAGGI.
Na AMAGGI, a primeira propriedade a receber a ‘Muvuca’ foi a Fazenda Tanguro, em Querência, em 2020. “Começamos numa área de sete hectares e, vendo bons resultados, ampliamos”, conta Mariotti. E de lá pra cá já são 43,5 hectares da propriedade recuperados por meio da técnica.
No final de outubro de 2023, ocorreu a 4ª Expedição da Restauração Ecológica e da Rede de Sementes do Xingu, organizada pela Rede de Sementes do Xingu (ARSX) e Instituto Socioambiental (ISA). Entre os dias 30 de outubro e 1º de novembro, a equipe esteve novamente na Tanguro, onde foram utilizados aproximadamente 130 kg de sementes de cerca de 70 espécies de árvores nativas.As sementes são oriundas de uma parceria entre a AMAGGI, o Instituto Socioambiental (ISA) e a Rede de Sementes, que tem mais de 600 coletores de sementes nas bacias do Xingu e do Araguaia.
“Já estamos nessa parceria há quatro anos, restaurando áreas degradadas”, disse Bruna Ferreira, diretora da Rede de Sementes do Xingu.
Para Rodrigo Junqueira, secretário executivo do ISA, esse trabalho em conjunto comprova que é possível buscar alternativas concretas para restaurar ecossistemas em grande escala.
“A AMAGGI é uma referência no setor agropecuário de ponta. E que as suas áreas em restauração possam ser um exemplo para que outras propriedades, outras áreas, possam também fazer recuperação”, declarou Junqueira.
A Tanguro é a fazenda da AMAGGI com a maior área de reserva legal: são 48,6 mil de um total de 87 mil hectares. Essa floresta traz consigo grande diversidade de fauna, mapeada por pesquisadores por meio de parceria com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM). Já foram identificadas na propriedade 60 espécies de mamíferos, 254 de aves, 394 de plantas, 180 de abelhas e 157 espécies de formigas.
“Investir na Muvuca vai ao encontro dos compromissos socioambientais da AMAGGI. É uma técnica com resultados concretos de restauração da vegetação nativa e que ajuda a gerar renda para comunidades que fazem coleta das sementes”, afirma Fabiana Reguero, gerente socioambiental da AMAGGI.
Atualmente, a AMAGGI conserva um total de 137 mil hectares preservados em suas fazendas. As próximas propriedades rurais da AMAGGI a receberem sementes serão a Fazenda Primavera, em Primavera do Leste (MT) e Fazenda Carolinas, em Corumbiara (RO).
Semente que gera emprego e renda
Criada em 2007, ainda no âmbito do Instituto Socioambiental (ISA) a Rede de Sementes do Xingu tornou-se uma associação em 2014. Atualmente tem mais de 600 coletores de sementes. A capacidade de produção é de 30 toneladas, com uma média de restauração de 700 hectares ao ano. Um dos objetivos da associação é ajudar a melhorar a vida dos coletores.
Sua atuação se estende por 19 municípios e três Terras Indígenas (totalizando cinco etnias). O trabalho engloba ainda 20 assentamentos de agricultura familiar e gera renda para agricultores familiares, indígenas, quilombolas, entre outros.
A coleta da Rede ocorre sob demanda, ou seja, é preciso que um comprador entre em contato para fazer a encomenda. Depois de coletadas, as sementes já beneficiadas vão para as ‘Casas de Sementes’, sendo três no total: em Nova Xavantina, Canarana e Porto Alegre do Norte.
Nas Casas, as sementes ficam armazenadas em uma sala fechada e refrigerada para evitar a contaminação, até serem separadas e enviadas ao comprador.
A maior parte dos coletores é formada por mulheres, 76%, sendo a maioria delas adultas e idosas. Entre elas está Cleuza Nunes de Paula, que há dois anos atua na aldeia Paraíso, em Canarana.
“Sempre gostei de plantar e colher as coisas, toda a vida eu gostei de fazer isso. Já aprendi muito e já passei muito conhecimento sobre planta. Minha mãe criou a gente na roça. Amo a natureza e fazer esse trabalho”, afirmou.
“O mais legal dessa técnica é que ela consegue gerar recursos para a comunidade. O dinheiro vai direto para os coletores de sementes, que hoje são mais de 25 grupos na Rede de Sementes do Xingu, entre indígenas, coletores urbanos e agricultores familiares. Nesses 16 anos, já receberam recursos de mais de R$ 6 milhões com a venda de sementes”, disse Bruna Ferreira, diretora da Rede de Sementes do Xingu.
Expedição
A 4ª Expedição da Restauração Ecológica e da Rede de Sementes do Xingu percorreu o caminho das sementes nativas do Cerrado e da Amazônia. Durante quatro dias, os participantes puderam conhecer, além de propriedades restauradas, a Casa de Sementes de Nova Xavantina, o laboratório da Unemat (Universidade do Estado de Mato Grosso) – que elabora os laudos sobre as sementes.
Além da Fazenda Tanguro, a expedição incluiu visitas a três áreas de restauração: o sítio Pé da Serra, no Assentamento Pé da Serra, em Nova Xavantina; a aldeia Ripá, de etnia Xavante, em Canarana; e Fazenda Schneider, em Querência.
No Sítio Pé da Serra, o objetivo foi recuperar uma área de preservação permanente (APP) de meio hectare, além de prestar homenagem a Heber Queiroz, um dos idealizadores do projeto. Ele era coordenador do ISA e ajudou a plantar milhares de hectares de floresta.
Na aldeia Ripá, localizada na Terra Indígena Pimentel Barbosa, em Canarana, a ‘Muvuca’ foi feita em 2,5 hectares, com foco em restaurar o entorno da aldeia com espécies para coleta futura de sementes e fortalecer a alimentação tradicional do povo Xavante.
“Queremos fortalecer [esse trabalho]”, disse o cacique José Guimarães Tserenhomo (Sumené Xavante).
Já na Fazenda Schneider, que produz soja, milho e algodão, a ‘Muvuca’ virou alternativa depois que a produção de muda não deu resultado satisfatório. Como resultado da técnica aplicada na propriedade, algumas das espécies que se destacam são baru, jatobá e angico.